sábado, 14 de janeiro de 2017

Capítulo de teste

A morbidez da cidade de Pallet sobressaía sobre a de qualquer outra cidade da região de Kanto.  Talvez a cidade mais camponesa dentre todas daquele país. A maioria dos habitantes vivia do campo, vendendo verduras, frutas e leite no comércio local. Apenas os mais ricos, que possuíam grandes rebanhos de Tauros, vendiam carne. Os pobres, muitas vezes, não podiam se dar ao luxo de comprar tal produto, por isso, inventavam receitas de deliciosas sopas campestres, que, mais tarde, se tornariam parte da cultura da região. Quando podiam, pescavam magikarp, porém, a espécie já estava praticamente extinta naquela cidade e em seus arredores por causa da poluição desenfreada vinda da cidade vizinha, Viridian, centro de grandes empresas.
Em uma das casinhas mórbidas e simples da cidade, viviam um casal de camponeses e seu filho, de nome Red, um jovem de poucos sonhos, assim como seus pais. É esse garoto que iremos acompanhar, a partir de agora. Nesse instante, ele se encontra cortando madeira de uma árvore para alimentar as chamas da velha lareira de sua humilde casa. O inverno estava chegando ali e os habitantes tinham de se precaver para não morreram de frio.
— Calor dos infernos! Me puseram para pegar lenha logo nesse dia quente. Vida de pobre é dura — ele para por um momento o seu machado para limpar as gotas de suor que escorriam por seu rosto, encarando a árvore recém cortada. — Tão dura quanto essa praga de madeira. Quem me dera ser rico e não precisar fazer tanto esforço. Só sentar em frente à minha lareira automática tomando um bom vinho de Tangela.
Seus pensamentos são,  então,  interrompidos por um tapa em sua nuca. Ele se vira, dando de cara com um homem de barba comprida e roupas rústicas.
— Pare de imaginar bobagens, moleque. Cuide de terminar logo esse trabalho, tenho outra tarefa para você.
— Mas pai, eu estou muito cansado e--
— Que se dane, é bom fazer o que mando se não quiser morrer de fome. Sua mãe não está ganhando quase nada com aquelas porcarias de tecidos de terceira mão.
— Ela faz o que pode.
— Bem, o que ela pode fazer não bota comida na mesa. Agora cale-se e depois venha ao meu encontro.
— Sim, senhor... — Ele afirma, com um certo rancor.
Depois do homem voltar a capinar algum mato que atrapalhava a pequena plantação da família, o garoto resmunga um bocado e volta ao seu trabalho. Após alguns minutos, Red separa a madeira que havia cortado e caminha até seu pai, que não estava muito longe.
— Terminei de cortar a lenha, o que mais devo fazer?
— Hm. Fiquei sabendo que hoje organizarão um campeonato de Pokémon nas docas. O prêmio é em dinheiro, uma quantia considerável. Poderemos comprar tudo o que precisamos para nos mantermos seguros em casa, no inverno.
— E os produtos que o senhor planta?
— Seu idiota, tudo isso que estou plantando é pra vender no mercado e pagar as contas, que são muitas. O que nos sobra é quase nada.
— Certo, mas como iremos participar disso sem um Pokémon? Aliás, esse tipo de coisa não foi proibida pelos Quatro?
— Por isso mesmo irá acontecer nas docas, moleque. Nenhum policial faz ronda por lá. E sobre o Pokémon,  é exatamente sobre isso sua nova tarefa — ele revela, ganhando a atenção do garoto. — Você terá de capturar um daqueles bichos ainda hoje.
— Mas como eu vou pegar um desses? — o jovem pergunta, observando o pai caminhar até algumas ferramentas.
Ele pega uma pá e volta aonde o filho estava.
— Pegue — ele ordena, entregando o objeto ao garoto de cabelos negros. — Com isso e algum esforço, vai conseguir algum Pokémon.
— Eu não sei se vou conseguir fazer isso... É cruel demais pra mim - Red recua.
É então que a mão calejada e machucada do velho homem aterrissa em uma das bochechas do menino, que, com o golpe, desaba no chão de terra. Apesar de já ter levado dezenas daqueles tapas, ainda não havia se acostumado com a severidade do pai.
— Eu já sofri muito nessa vida, garoto. Já passei muitos invernos morrendo de frio e fome e, agora que você já pode trabalhar pra ajudar nas despesas de casa, não vou lhe deixar vagabundando por aí. É melhor ir agora até aquela floresta e pegar um bicho bom de briga — o homem sentencia, voltando à sua plantação e deixando o menino sem chão.
— Um dia eu não vou mais precisar ser humilhado por esse... esse cara. Vou sair com minha mãe desse fim de mundo e me tornar um dos Quatro — ele pega seu boné, que havia caído no chão, assim como si, e se direciona para a floresta da cidade.

-•-

A floresta de Viridian era a mais próxima da cidade de Pallet. O espaço era cheio de árvores, grama e muitos Pokémon, mas não muito perigosos. Rattata, weedle, caterpie podiam ser facilmente encontrados por ali, mas não era isso que Red queria. Ele precisava de um Pokémon realmente forte para orgulhar seu pai. Depois de muito andar, resolveu parar no pico da floresta para observar a cidade vizinha e tomar um pouco de água.
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— Céus... quanta diferença entre esta cidade e a minha. Às vezes, fico indignado com tanta desigualdade. São realidades tão opostas. — ele lamenta, mas logo volta a caminhar pela floresta, em busca de um Pokémon forte.
Enquanto observava atentamente movimentos suspeitos em árvores e arbustos, esperando encontrar algum monstrinho que não fosse um inseto ou um Ratatta, ele se depara com uma cena peculiar. Um homem de boina e roupa pretas, com um grande R estampado na blusa e um chicote nas mãos ameaçava um pequeno Pokémon alaranjado, semelhante a um lagarto, que tremia de medo.
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— Não tem para onde fugir, praguinha! Sua mãe já está pronta para servir à nossa organização, você será o próximo! Mesmo que não seja de grande utilidade em batalhas oficias, poderá ser usado por um dos pirralhos da Academia.
Dito isso, Red percebe que o homem possuía uma esfera vermelha com branco em seu cinto. O objeto era feito de um material transparente, o que possibilitava que Red visse um grande dragão alaranjado, parecido com o pequeno Pokémon, preso.
— ''Aquela deve ser a mãe dele...'' — o jovem deduz, observando uma expressão de tristeza e angústia no rosto de ambos os lagartos.
O homem levanta o chicote para o pequeno Pokémon, que começa a chorar e berrar, como se chamasse sua semelhante. Red sabia que não podia deixar o pequenino ser surrado. E ele não o faria. Quando o criminoso estava prestes a chicotear o monstrinho, o garoto se joga em cima dele, o fazendo baquear no chão.
— Saia de cima de mim, seu salvagem! — ele ordena, se rebatendo no chão, tentando se livrar do jovem.
— Só depois que você deixar aquele Pokémon inocente partir!
— Você que pensa.
Depois de muita insistência, o malfeitor consegue se soltar e jogar Red no chão, correndo até o pequeno Pokémon, que tentava correr com suas pequenas e lentas patas. O bichinho é surpreendido por uma chicoteada, mas, com sorte, consegue desviar, fazendo com que a tira de couro acerte o chão. A poeira sobe, o assustando e o deixando paralisado.
— É o fim da linha, baixinho! — Ele levanta seu instrumento novamente, porém, dessa vez, o chicote acerta alguma coisa. Ou melhor, alguém. Red poderia ficar com as costas ardendo por alguns dias, mas valia à pena. — Pirralho intrometido, pare de tentar defender esse animal! Essas coisas só servem para ser usadas em batalhas, se pretende pegar esse daqui, pode desistir e ir atrás de outro!
— Você... — ele sente uma imensa dor em seu ombro — Você me enoja. 
— Grr... — o homem começa a se irritar.
Enquanto Red sofria com seu ato de coragem, o pequeno lagarto assistia tudo com os olhos cheios de lágrimas. Ele nunca havia visto um humano fazer isso por Pokémon algum. Sempre via aqueles seres como ameaças, pois, em todas as vezes que cruzava com um, sua mãe se machucava para lhe salvar. Mas dessa vez foi diferente. Aquele humano conseguiu vencê-la e capturá-la. 
— Você pediu por isso, moleque — o criminoso pega a esfera que havia guardado em seu cinto. — Terei de tomar medidas drásticas. Saia, Charizard!
Ele joga a esfera no ar, fazendo com que uma luz vermelha saia de si. A energia materializa-se em um grande e amedrontador dragão, que ruge ao sair de seu confinamento. 
— Que-que tipo de bruxaria é essa, cara?! — Red se assusta com aquela bugiganga que nunca havia visto antes.
— Hahahahaha, vejo que é apenas um pirralho do mato. Deve ter vindo de Pallet, não é? Aquela cidade, ou melhor, vila, é realmente decadente, parece que vivem na pré-história.
— Cale a boca, agora, ou irá se arrepender! — o jovem se irrita.
— Apenas meus superiores da Team Rocket me dão ordens. Charizard, ataque-o! — ele ordena, levantando o braço na direção do garoto.
O grande lagarto com asas recebe a ordem e, ao observar seu pequeno filhote correr para si, pronto para lhe abraçar, ela repensa o comando do homem e se vira para o mesmo. De repente, um jato de chamas sai de sua boca na direção do malfeitor, que recebe o ataque aos berros. Enquanto Red observava a situação, impressionado com o instinto da Pokémon, as chamas cessam depois de alguns segundos, revelando uma pilha de cinzas aonde deveria estar o criminoso.
— Vo-você... — o garoto continua em choque, até que percebe a aproximação do dragão. 
Enquanto permanecia assustado, o pequeno lagarto, agora livre do cruel homem, assim como sua mãe, pula de felicidade. Red, então, também fica feliz ao observar a alegria do pequenino e, depois de um tempo, recebe um sorriso da amedrontadora fêmea. 
Ao perceber que sua ''missão'' estava cumprida, o camponês volta para sua cidade, pois a noite já estava chegando. Ele sabia que poderia levar a maior surra de todas de seu pai, mas ao menos sabia que nada iria doer mais do que a cena deplorável daquele caçador, ou seja lá o que aquele homem fosse, ameaçando um pobre bichinho. Ele não havia prestado muita atenção, mas tinha quase certeza que havia visto uma marca de chicote na Charizard. Enfim, havia valido a pena.
Ao chegar na pobre casinha, iluminada por lamparinas presas na parede, seu pai já lhe esperava, sentado em uma cadeira de balanço na porta de casa. 
— Cadê o Pokémon? Não estou vendo nenhum bicho. — o homem se levanta, começando a se enfezar ao perceber que o filho não havia trazido Pokémon algum.
— P-pai, me desculpa, por favor, mas-- — quando ele estava prestes a implorar perdão ao pai, sente alguma coisa arranhar sua calça. 
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~Char!
Era o pequeno Charmander que havia salvado. Aquele pequeno Pokémon estava disposto a lhe ajudar? Ele havia lhe seguido? Bem, Red estava surpreso com aquela aparição inesperada e sabia que iria ter de dizer para o pai que havia capturado aquele monstrinho, ou, ao contrário, seria taxado como covarde e fraco.
— Ora, ora, vejo que conseguiu pegar um bom exemplar!
— S-sim... eu acho. — ele é obrigado a confirmar. 
É então que ouve o som de asas batendo, e direciona seu olhar para o céu cheio de estrelas. Lá, estava a mamãe do Charmander. Red acena para a Pokémon, que ruge e esboça um sorriso. Charmander começa a pular e acenar para a dragão-fêmea, que, depois de algum tempo, corta as nuvens com suas afiadas asas, voando para longe e sumindo de vista.
Era o início de uma nova amizade, e isso era muito bom. Mas o medo habitava dentro do jovem, que não sabia como iria batalhar no Campeonato ilegal com aquele pequenino lagarto. Bem, não custava tentar.

Um comentário:

  1. OH MY GOD!!! Ainda estou tentando me recompor, que história foi essa? *-*
    Foi uma boa surpresa ter me mostrado esta história, só por ser em Kanto captou logo minha atenção de genwunner assumidissima :v se bem que só por ser seu e ter essas descrições magnificas que me faz voar através da tela do pc para o mundinho que você me faz imaginar através das palavras já era motivo mais que suficiente para ler, então o que dizer de uma fic sua, em Kanto, onde a Team Rocket são monstros e o protagonista começa com o meu inicial favorito, Charmander?
    Bom, não sou uma pessoa que acredite em religião, mas com certeza pretendo acompanhar essa fic qual culto divino, pois tem tudo aquilo que eu gosto, inclusive um mundo poluído pelos governantes que impedem as batalhas Pokémon.
    Gostei da introdução da família do Red, deu um efeito bem convincente dele vir de uma família pobre de Pallet, visto que em um mundo real, Pallet seria exatamente assim, com os pais rigorosos, deixando os filhos trabalhar o dia todo para ajudar na casa e as mães tentando ganhar dinheiro com costura e afins, o ambiente perfeito para uma história de tom medieval/era moderna.
    Adorei ^^

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